Vivemos, nos dias de hoje, tempos conturbados na escola pública portuguesa. Esta constante agitação, não é percebida nem compreendida – e será que querem? – por uma larga maioria da população. Passa a ideia que todos podemos falar de tudo e de todos, sem qualquer tipo de sustentação ou argumentação, e é fácil porque tudo se pode dizer ou escrever. Já ouvi e li coisas em blogues e fóruns que me fazem “trepar paredes”. Como é possível que tanta gente fale daquilo que não conhece. Dizem: “eles ganham muito, não fazem nada, são os meus impostos que pagam àquela gente, só têm férias, etc.”(1). A verdade é que ser professor vai muito além para ser compreendido por quem só tem ódio na cabeça e vive melhor quando vê alguém a ser estilhaçado constantemente na praça pública. Esquecem-se do mais importante, são os professores que cuidam, ouvem, brincam, acarinham, ensinam, aconselham, etc. São os professores que formam os filhos de quem tanto nos odeia, são os professores que, por contingências da própria profissão, têm de “prejudicar” sistematicamente a sua própria família. Mas abria aqui uns parênteses para dizer que como professor não abdico do meu papel de pai e encarregado de educação e faço diariamente um esforço para ser visto em casa como PAI. Se estivermos um pouco atentos, reparamos que algumas das tarefas desempenhadas hoje em dia pelos professores deviam ser desempenhadas exemplarmente pelos pais e encarregados de educação, que espero que não se demitam (a troco do "muito trabalho" que têm e das horas tardias a que chegam a casa) do seu importante papel de PAI. A verdade é que o esforço na tentativa de humilhação por parte de um grupo da sociedade portuguesa é contrastado com reconhecimento dos alunos. Era importante que esse grupo da sociedade portuguesa que tanto nos odeia fizesse terapia e reconhecesse o papel vital que têm os professores no desenvolvimento de uma sociedade justa, equilibrada e sábia. Nós, professores, iremos continuar a lutar para defender a escola pública e os nossos alunos sem que sejamos “atropelados”, “estilhaçados” ou “usados”. Imagine uma sociedade sem professores…
(1) Ser professor é ganhar em termos líquidos e a meio da carreira perto de 1350€ (e também pagamos os nossos impostos!), é não ter um horário de trabalho estabelecido, com reuniões e mais reuniões e mais reuniões e a maior parte delas a decorrer à noite, é ter as férias que todos têm (claro que vão falar nas interrupções lectivas, mas interrupções lectivas não são férias. Nesse período os professores também trabalham e muito!). Os professores também têm consciência da importância da formação e esta é realizada essencialmente nos períodos de interrupção lectiva ou aos sábados.
O plano tecnológico da educação (PTE) vem dotar as escolas de tecnologias que permitem a alunos, professores e encarregados de educação o contacto com as novidades tecnológicas no campo da educação.
Relativamente aos alunos, espera-se que os computadores portáteis, atribuídos através do programa e-escola ou e-escolinhas, tragam benefícios naquilo que lhes diz respeito e pelo qual lhes foram atribuídos (penso eu). Espero que não seja um elemento que desvie o aluno daquilo que este tem de fazer: empenhar-se em aprender e aprender com qualidade apoiando-se e servindo-se, se necessário, da tecnologia. Verifica-se que muitos dos alunos ainda têm de aprender a fazer uso da tecnologia e a QUERER utilizá-la em contexto educativo (motivo principal pelo qual os portáteis foram atribuídos, ou não?), no entanto, devem ter o acompanhamento/monitorização por parte dos professores e encarregados de educação. Desaconselho veementemente o uso do computador para jogos (principalmente violentos) que não tenham carácter educativo e alerto para os perigos que todos corremos (não só os alunos) se não tivermos em atenção alguns aspectos quando utilizamos indevidamente a world wide web.
Os professores têm de começar, apesar de difícil, a alterar as suas metodologias e a fazer uso da tecnologia para melhorar o processo ensino-aprendizagem. Claro que a tecnologia não vem resolver nada, pode até complicar, no entanto, com formação adequada certamente que os professores irão progressivamente alterar as metodologias e introduzir cada vez mais as tecnologias na sala de aula. Como diz Prensky (2006), os alunos são nativos digitais e já incorporaram as tecnologias como fazendo parte do futuro, do seu futuro. A utilização correcta da tecnologia na sala de aula pode funcionar como um elemento motivacional para os alunos.
Os encarregados de educação desempenham um papel muito importante. Cabe-lhes a tarefa de auxiliar e monitorizar, na medida do possível, a utilização que os seus educandos fazem da tecnologia. Bem sei que é difícil e muitos não têm conhecimentos, no entanto, devem estar atentos ao tempo que os seus educandos estão em frente de um computador e devem pedir auxilio e informações na escola sempre que considerem necessário.
As tecnologias educativas são bem-vindas e certamente serão uma mais-valia se bem utilizadas por parte de alunos, professores, pais e encarregados de educação.
Prensky, M. 2006. Don’t Bother me, Mom, I’m Learning! – How computer and video games are preparing your kids for 21st century success and how you can help! St. Paul – Minnesota: Paragon House.